Com pressa? Então aqui vai em poucas palavras:
- Estudo revisa anomalias químicas na atmosfera venusiana a partir de dados coletados ao longo de meio século.
- Observações inexplicáveis e controversas incluem compostos que, se confirmados, podem indicar atividade biológica nas nuvens de Vênus.
- Pesquisadores apelam por análises repetidas com instrumentos modernos e reanálises adicionais que possam confirmar ou não a presença desses compostos .
- O estudo sugere que futuras missões a Vênus devem focar em observações detalhadas das propriedades atmosféricas, dessa maneira, será possível investigar os supostos produtos químicos não explicados e que podem estar relacionados à habitabilidade e atividade biológica no planeta.
Tem uns minutinhos a mais? Então leia a matéria completa:
A valiosa atmosfera de Vênus
A possibilidade de vida na atmosfera de Vênus não é assunto recente, em 1967 o saudoso Carl Sagan publicou um artigo na Nature já levantando essa ideia. Mais recentemente, tivemos (e ainda temos) uma calorosa discussão no meio acadêmico sobre a fosfina (um importante indicativo de vida) em Vênus: dados refutados, reanalisados e, ao que tudo indica, inconclusivos sobre a presença desse composto nas nuvens Venusianas.
Agora, um estudo intitulado Astrobiological Potential of Venus Atmosphere Chemical Anomalies and Other Unexplained Cloud Properties (ainda não revisado por pares), fez uma importante revisão sobre as propriedades da atmosfera de Vênus e suas anomalias químicas, e como essas perturbações podem motivar a busca por vida no planeta mais quente do Sistema Solar.
Antes de tudo, é sempre bom lembrar que, ao nos referirmos à busca por vida em Vênus, estamos falando da busca por vida nas nuvens do planeta. Isso se deve à extrema temperatura de sua superfície, que atinge quase incríveis 500 °C, tornando inviável imaginar qualquer forma de vida conhecida.
No entanto, a uma altitude de 48 a 60 °C acima da superfície de Vênus, encontramos uma região com temperatura e pressão semelhantes às da Terra. Isso a torna um local de interesse para a busca por vida extraterrestre.
Dados ultrapassados? Não é o que parece
A partir dos dados atmosféricos do planeta Vênus coletados durante meio século, o novo estudo revisou e resumiu importantes observações de longa data e inexplicáveis, informações estas que foram descartadas mas que podem instigar a busca por respostas acerca de certos comportamentos químicos aparentemente irregulares nas nuvens Venusianas.
Entre os dados analisados, destacam-se as informações coletadas das missões ao planeta Vênus pela antiga União Soviética e Estados Unidos, incluindo a Pioneer Venus, Venera 8 e Venera 14.
Diversos são os produtos químicos controversos e inexplicáveis que foram levantados pelos pesquisadores, incluindo H2O, O2, NH3, PH3, H2S e HCN. Tais compostos se confirmados podem ter profundas implicações inclusive na possibilidade de vida.
Um exemplo dessas implicações considerando os compostos acima mencionados são o NH3 (amônia) e o HCN (cianeto de hidrogênio), onde a existência deles na atmosfera de Vênus poderia ser um forte indicativo para a presença de um ciclo de nitrogênio no planeta, um importante processo de transformação do nitrogênio realizado por seres vivos na Terra. Ou seja, o NH3 e HCN se confirmados podem revelar atividade biológica nas nuvens de Vênus!
Conclusão e apelo
Os pesquisadores concluem fazendo um apelo para a realização de repetidas análises através de instrumentos modernos juntamente com reanálises adicionais.
“Observações repetidas, de alta fidelidade e in situ das propriedades atmosféricas e de nuvens devem ser um objetivo primordial de futuras missões a Vênus, uma vez que a presença de produtos químicos não explicados na atmosfera pode estar relacionada à habitabilidade das nuvens, atividade biológica ou química desconhecida”, concluem os cientistas.
